Por Fredi Jon
Por muito tempo acreditamos que o maior risco para a humanidade seria a escassez: de comida, de água, de ar limpo. Mas hoje, silenciosa e comodamente, o que nos ameaça é o excesso, não de bens, mas de distrações.
A avalanche de notificações no bolso, o “feed” infinito que nunca se esgota, as séries maratonadas madrugada adentro, o videogame que sequestra horas, a rolagem automática de vídeos onde ninguém diz nada, mas todos fazem caretas. O trânsito parado em que, em vez de pensar, nos escondemos atrás de músicas repetidas ou podcasts sobre nada. O celular levado à mesa durante o jantar, transformando conversas em monólogos distraídos.
Vivemos cercados por escapes fáceis: reality shows que fabricam dramas inúteis, promoções relâmpago que nos fazem comprar o que não precisamos, discussões virtuais que inflam o ego e esvaziam o espírito. A política vira espetáculo, a tragédia vira “trend”, a dor vira “conteúdo”.
Quanto mais distraídos, menos presentes. Quanto menos presentes, menos confrontamos a vida real. E o que não é confrontado apodrece em silêncio: as relações, a saúde, os sonhos. O desconforto — aquele incômodo necessário que nos faz mudar — é abafado por uma sequência infinita de fugas.
Mas há uma saída: silenciar o barulho para ouvir o que realmente importa. Reduzir o excesso até que o essencial volte a ter voz. Trocar a tela pelo rosto de alguém, a rolagem infinita pelo passo firme na rua, a avalanche de dados por um único pensamento profundo. Talvez não seja fácil, mas o retorno é poderoso: reconectar-se consigo mesmo e com o mundo real é como recuperar um sentido que estava dormente.
E quem ousa dar o primeiro passo nessa direção descobre algo surpreendente, a vida, sem distrações, não é menos interessante. É mais intensa. E, finalmente, é real.
Fredi Jon – jornalista, escritor, musico e produtor de eventos na Serenata & Cia – serenataecia.com.br